Local: Belém - PA
Fonte: O Liberal
Link: http://www.oliberal.com.br/index.htm
Foto: Nadson Oliveira
Antes mesmo de começar a ser posta em prática, a política pesqueira do governo federal, que aumentar em até 50% a produção de pescado nos próximos anos, incrementando a pesca industrial, já está sendo posta em xeque por pesquisadores e técnicos em pesca que atuam na região amazônica. Eles dizem que a pesca artesanal está sendo desprestigiada pela nova política do secretário José Fritsch.
Para o pesquisador do departamento de ictiologia do Museu Emílio Goeldi, Nadson Oliveira, a idéia de investir na construção e modernização da frota nacional de barcos para a pesca em águas profundas não prestigia a pesca artesanal da Amazônia, responsável pela maior produção de pescado do País. “A secretaria (de Pesca) tem como objetivo investir na captura de atuns, agulhões, marlins, tubarões e outras espécies oceânicas. Mas pesquisadores oceanográficos afirmam que que essas espécies levam até 15 anos para crescerem. Se aumentar a captura, eles podem não ter tempo de recuperação”, explica Nadson Oliveira, que participa de outros grande estudos na região do estuário, dentre eles o manejo dos grandes bagres da Amazônia, que são a dourada e a piramutaba.
Já o engenheiro Ítalo Vieira, chefe do centro especializado do Centro de Pesquisa e Gestão dos Recursos Pesqueiros do Litoral Norte (Cepnor), acha que antes do secretário Eduardo Fritsch se preocupar em modernizar a frota pesqueira brasileira, ele deveria começar pela modernização do atual código de pesca, “que é a Constituição do setor pesqueiro, mas também uma cópia mal feita do código chileno, criado para desenvolver o setor pesqueiro industrial, mas que em nenhum momento faz alguma citação à pesca artesanal”.
Ítalo Vieira acha que o caminho mais viável para aumentar a produção pesqueira no País é a aquicultura e a carnicicultura - respectivamente as produções de peixes e camarão em cativeiro. Ele afirma que a pesca industrial, tanto do pescado quanto do camarão, já se encontra em processo de saturação, sem poder conseguir mais aumentar sua produção. “Várias espécies estão no seu limite. Por isso que financiar modernização da frota não é um bom caminho. Mas para se incrementar a aquicultura precisamos organizar os pescadores artesanais”, ensina o chefe do Cepnor.
O Nadson Oliveira contudo, alerta que a criação em cativeiro “é uma atividade que cresce a cada ano de maneira absurda, sem nenhum planejamento, colocando em risco o mais rico ecossistema aquático, que são os manguezais, pois a maioria das grandes fazendas de piscicultura e carnicicultura não possuem mão-de-obra qualificada, como técnicos e engenheiros de pesca”. A região Norte detém mais de 55% das áreas de mangues existentes em todo o litoral brasileiro, sendo que quase toda sua totalidade encontra-se intacta. Isso mostra o motivo da grande produtividade de pescado na região, principalmente no Pará e no Amapá.
Criação de peixe e camarão em cativeiro é a solução
Para Nadson Oliveira, o investimento na pesca industrial e na aquicultura é de extrema importância, desde que haja um estudo e uma política séria para o setor. “Na industrial, é preciso introduzir novas espécies, reduzir e definir períodos sérios de defesos, para a captura de espécies como a piramutaba, pargo, camarão-rosa, mero e cação. Resultados de estudos realizados na costa norte alertam que a maioria dessas espécies está em processo de sobrepesca”, afirma o pesquisador do museu Emílio Goeldi.
Quanto à aquicultura, Nadson explica que pequenas criações vêm se espalhando pelo nordeste e sudeste paraenses com a criação de tilápias e camarão da espécie Macrobachium rosenberge, mais conhecido por gigante da Malásia, “colocando em risco os recursos hídricos e as espécies nativas, já que não existe a preocupação com o controle e o tratamento dos efluentes”. Ele cita como “exemplo claro” desse perigo contra os nossos rios, o que está acontecendo nas comunidades de Santa Maria, Chapada e Campo de Cima, todas no município de Tracuateua, nordeste paraense, “onde o gigante da Malásia invadiu campos alagados. Coincidência ou não, nos últimos anos houve uma diminuição drástica nessa região, dos estoques de espécies como o jacundá, o jeju, cachorro de padre e tamoatá”.
Nadson tem convicção de que é preciso apoiar as pesquisas para a difusão de tecnologias para o cultivo de espécies nativas como o camarão regional (Macrobachium amazonicum), camarão canela (Macrobachium acanthurus), pirarucu (Arapaima gigas), ostras, criação de larvas de caranguejo-uçá para repovoamento e incentivar o cultivo de peixes que já vem dando certo na região, como, por exemplo, o tambaqui. “A pesca artesanal amazônica, apesar de suas precariedades, é economicamente expressiva. Se houver uma administração correta, será promissora”, completa o pesquisador.