Por Nadson Silva Oliveira
Para quem não esteve
na Amazônia nos três últimos meses que finalizaram o ano de 2005, é impossível
imaginar as secas dos seus volumosos rios. Os pescadores dessa região, já mais
imaginaram que um dia poderiam atravessar caminhando os leitos de muitos rios.
Mas para os ecologistas que vivem de perto o drama da floresta amazônica, acreditam
que o único e exclusivo culpado por esses recentes fenômenos são as intensas queimadas
na região. Para muitos é inacreditável e inaceitável que o homem “moderno” está
sendo capaz de transformar em tão pouco tempo a paisagem da floresta Amazônica.
A seca ocorrida nos
meses de setembro, outubro e novembro (ano de 2005), período considerado de
verão em toda região norte do Brasil, foi responsável pela maior vazante dos
rios Solimões e Amazonas. Foi considerada pela Administração de Hidrovias da
Amazônia Oriental (AHIMOC) como a maior dos últimos dez anos. De acordo com
dados do Instituto de Meteorologia do Peru, o volume do rio Amazonas caiu pela
metade. Tem morador que afirma que nunca presenciou uma seca tão forte como essa.
“Esse é o troco que a natureza está devolvendo para o homem”, palavra de seu
Antônio, dono de flutuante em Manaus.
As prefeituras dos
municípios de Manaquiri, Caapiranga, Nova Olinda do Norte e Itapiranga, todas
no Estado do Amazonas, anunciaram Estado de Calamidade Pública, no mês de
outubro. No início de novembro, mais 16 municípios entraram em estado de
alerta.
A situação nas
comunidades do município de Nhamundá, na divisa do Amazonas com o Pará, também foi
dramática, dezenas delas ficaram isoladas e sua principal fonte de alimento, o
peixe, estavam morrendo. Varias comunidades na região de Santarém, oestes do
Pará também ficaram sem água e alimento. As escolas tiveram seu ano letivo
encerrado pela dificuldade de navegação.
A seca mudou o
cenário maravilhoso dos rios da Amazônia. O odor provocado pela decomposição de
milhares de peixes a beira dos rios era sentido por toda parte. Mas houve quem ainda
festejou esta rigorosa seca, pelo menos nos primeiros meses, pois, com a
dificuldade de navegação para a maioria das embarcações de pesca (geleiras),
que praticam os arrastos das famosas redinhas de cercos, os pequenos pescadores
artesanais e de subsistência tomaram contam do rio Solimões, e em pouco tempo
enchiam suas canoas de peixes, principalmente com espécies (Bodó/Acari,
Arraias, Piranhas e outros) mais resistente à baixa de oxigênio dissolvido na
água.
Uma das
maiores secas que já atingiram a Região Amazônica, pode não ter sido provocada
pelo fenômeno climático El Niño como se supunha até agora, mas pelas altas
temperaturas verificadas no oceano Atlântico tropical Norte. A conclusão é do
cientista José Marengo, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,
INPE, e que foi destaque na “Philosophical Transactions”, periódico científico
da Royal Society, uma das mais respeitadas instituições científicas do mundo.
Texto: Nadson Silva Oliveira (Direitos reservados/resumo do
texto principal).
Local e data: Manaus, Nov/2005
Imagem: Diario verde